O barqueiro Ézio Gabriel herdou do pai o ofício
O vai e vem dos barcos de
passageiros pelo Delta do Paraíba
Uma
viagem que dura, em media, 50 minutos e que vai muito além da simples economia
de tempo no deslocamento entre os municípios de São Francisco de Itabapoana e
São João da Barra. Compondo o exuberante cenário do Delta do Rio Paraíba do
Sul, as travessias de barco entre os dois municípios vêm de uma época em que as
opções viárias eram escassas e se consolidaram, ao longo do tempo, como um dos
símbolos da praia de Gargaú.
Atualmente
seis embarcações deslizam diariamente pelas águas serenas do Paraíba,
desbravando umas das mais belas riquezas naturais do Estrado do Rio de Janeiro,
onde a flora, composta por manguezais e árvores nativas, e a diversidade da
fauna, sintetizada no colorido dos pássaros, impressionam. E a tranqüilidade em
meio a esse ecossistema ainda cativa até mesmo quem já está habituado com o
trajeto.
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Moro no centro de São Francisco e trabalho em São João da Barra. Há três anos
utilizo regularmente esse meio de transporte. Aqui estamos em contato com a
natureza, respiramos um ar puro e ficamos livres daquela poluição sonora do
cotidiano. Parece que a modernidade, no seu lado negativo, ainda não chegou por
aqui. Mesmo seguindo para o trabalho, consigo descansar durante o trajeto e
toda essa calmaria dá a impressão de que a vida passa um pouco mais devagar –
destaca a professora Patrícia Freires Alvarenga.
As
viagens, sem muita precisão em relação aos horários de chegada e de partida,
custam sete reais, sendo necessário um número mínimo de passageiros para que os
motores sejam ligados e a proa comece a cortar as águas rio adentro. “Aqui não
temos horário certo para sair, pois dependemos de uma quantidade de passageiros
para que viagem dê um lucro satisfatório”, explicou Wilson Moreira Batista
Junior, mais conhecido como Biguinho, 35 anos, há nove exercendo o ofício.
Assim
como a de Biguinho, outras três embarcações que realizam o vai e vem diário entre
Gargaú e São João da Barra, e vice-versa, são capitaneadas por moradores de
Gargaú. Uma delas é a de Ézio Gabriel Silva. Seguindo uma tradição de família -
é filho de Gabriel Silva e sobrinho de Daniel Silva, ambos pioneiros no ofício
na comunidade -, ele tem no transporte de passageiros sua principal fonte de
sustento, mas lamenta não poder viver exclusivamente do legado deixado pelos
seus antepassados.
-
Desde que São Francisco se emancipou o movimento começou a diminuir. Naquela
época, quando os dois municípios formavam um só, tudo se resolvia em São João
da Barra. Antes a concorrência também era menor, pois só existiam meu pai e meu
tio fazendo esse serviço. Durante a baixa temporada surgem alguns passageiros,
mas é no período de verão que conseguimos faturar bem mais. No restante do ano,
tento preencher o tempo livre com outros afazeres para complementar a renda - destacou
Ezio, irmão do também barqueiro Elael Silva, que também atua no ramo.
Um
estímulo a mais para realizar a viagem, mesmo para aqueles que, por receio, ainda
evitam entrar em um barco, é o fato de não haver registro de nenhum acidente
com maiores conseqüências nessas travessias. Soma-se a isso a fiscalização
rigorosa da Capitania dos Portos, com uma Seção Operacional instalada em São
João da Barra, limitando o número de pessoas por viagem, além de outras exigências,
como equipamentos de segurança (bóias e coletes), habilitação dos barqueiros e
documentação da embarcação.
Mais
jovem entres os barqueiros, Dalvan Santos, 21 anos, morador de São João da
Barra, destaca a importância dos critérios de segurança, mas faz uma ressalva quanto
ao número de passageiros. “As autoridades da Marinha poderiam ser mais
flexíveis em relação ao limite de pessoas por viagem, que deveria ser de acordo
com o tamanho da embarcação”, frisou.
Ponto
de chegada e de partida dos barcos, o bairro do Buraco Fundo, em Gargaú, e o Cais
do Imperador, no centro de São João da Barra, são testemunhas de idas e vindas
de passageiros e dessa longa história que reúne tradição, amor ao ofício e
contato permanente com a natureza. Com mão firme no leme e olhar focado no
horizonte, esses barqueiros seguem a velha rotina, defendendo o pão de cada dia
a bordo de suas embarcações e proporcionando a cada um dos passageiros uma
viagem cercada de beleza e encantos, no prazeroso itinerário do Delta do
Paraíba.
Maurício Barreto
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